terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Genesis - Seconds Out

Foi aqui que tudo começou, a partir do momento que ouvi este álbum a minha visão da música nunca mais seria a mesma. Algures durante o meu 10º ano de escolaridade, acordo com a Carpet Crawlers no ouvido, tenho que a ouvir, tenho que a ter. Ao contrário de tudo o que conhecia até aí (vá, muito do que conhecia) não podia arranjar pelos canais normais, portanto, juntei algum dinheiro e corri as lojas de música da cidade. Não tinha os recursos que hoje tenho, o Lamb Lies Down On Broadway não era algo ao alcance de um capricho, felizmente tive a sorte de encontrar este Seconds Out. Do pouco que conhecia de Genesis sabia que tinha ali uma boa selecção de canções ao vivo, ainda assim, não eram cantadas por Peter Gabriel. Ignorei a saída de Gabriel e desfrutei do último lançamento com Steve Hackett, não podia ter ficado mais impressionado. Já não havia volta a dar:  Genesis não é tipo de banda que divulgamos aos amigos, é a música dos nossos pais (e não são todos), requer cultura e maturidade; depois da habitual futebolada reunimo-nos em minha casa e não resisti a mostrar a descoberta... bastaram os primeiros versos da Firth Of Fifth (e esta versão não abre com o solo de piano de Tony Banks) para arrepiar os quinze anos de juventude da plateia que passou a evitar o que pudesse sair dos meus headphones. Este álbum afastou-me um pouco da minha geração, no entanto, parece ter quebrado a barreira etária que me separava do meu pai: assim que lhe mostrei a aquisição ele dirigiu-se à prateleira dos discos de vinil e retirou de lá a edição que tinha, de 1977, assim como toda a discografia mais progressiva do grupo, que depois haviamos de comprar em CD.

É um dos mais genuínos registos ao vivo que conheço, pois adapta a técnica espectacular dos intérpretes e a teatralidade dos anos com Gabriel à voz e estilo de Phil Collins. A Carpet Crawlers sofre um pequeno corte nos primeiros versos (tornando-a ainda mais homogénea), a Firth Of Fifth perde a entrada de piano que tinha na versão de estúdio, a Lamb Lies Down On Broadway é tocada numa assinatura temporal mais rápida para depois lhe ser adicionada, como apêndice, o final da Musical Box. Mas nem tudo são cortes: O épico Supper's Ready é tocado na íntegra (com todas as limitações de uma versão ao vivo), a I Know What I Like é um momento espectacular de envolvimento com a audiência, Cinema Show conta com o contributo de Bill Bruford na bateria, e o album fecha com o trabalho fantástico de Phil Collins e Chester Thompson em Los Endos.

Foi esta uma das primeiras obras-primas que conheci e ainda hoje vou conhecendo. Volto agora a dar mais umas rotações a estes discos e não consigo deixar de estranhar quando começa Squonk (uma das mais belas do pós-75), como senti pela primeira vez que a ouvi, de tão habituado que estava à fase com Gabriel. Tal como não deixo de lamentar quando chego ao fim com Los Endos, completamente rendido à mestria da banda e à voz de Collins.

 

1 comentário:

Pedro disse...

Poucos de nós somos priveligiados por ter quebrado uma barreira entre gerações. Muitos foram aqueles que não conseguiram aceitar a boa música que se fazia noutros tempos. A tendência de seguir a moda, a MTV, as rádios comerciais que todos os dias inundam a telefonia com anúncios em brasileiro e música de esgoto.
Realmente é um grande prazer para mim poder dizer que me fascina muito mais a música que foi feita antes de eu nascer e até aos meus 10 anos, do que toda a música feita durante a minha adolescência.
Vivi mais a música da adolescência do meu pai, do que a minha. É nesse ponto que alguns de nós somos priveligiados por ter quebrado uma barreira geracional cultural. Genisis uma boa banda sem dúvida alguma.