sábado, 1 de março de 2008

Morte Macabre - Symphonic Holocaust

Na música, como na vida, seguimos um curso e teremos sempre que nos render ao devir, às vicissitudes de um gosto adquirido e ao desejo que anseia por algo diferente de tudo o que já conhecemos. É este sentimento que nos faz progredir, no entanto, nunca cortamos completamente as amarras com o passado, procuramos reinventá-lo, almejando a perfeição nunca antes atingida. Morte Macabre é para mim um bom exemplo disso: é um projecto que compreende a fusão de duas bandas que gosto muito (Anekdoten e Landberk ou Paatos) e que recolhe inspiração directa e explicitamente da banda sonora de filmes de terror (e um erótico) dos anos 70. Ao ouvir pela primeira vez esta música, seduziu-me na sua melancolia e romancismo negro, o que não me deixa alheio ao facto de se tratar de um estilo restrito e mais acessível a uma elite do que ao ouvinte circunstancial.

O álbum começa pesado, com Apoteosi Del Misterio, retirada do filme de Lucio Fulci: Paura nella città dei morti viventi ou City Of The Living Dead. Esta faixa é metafórica, em relação ao resto do álbum, isto é, estabelece em crescendo uma atmosfera densa e claustrofóbica até entregar um ritmo maquinal, ainda que, tecnicamente cativante. Threats Of Stark Reality é uma composição dos intérpretes (Berg, Nordin, Fiske e Dimle) servindo de introdução a Sequenza Ritmica E Tema, esta que é parte do clássico de Fulci: E Tu Vivrai N'el Terror - L'Aldila ou The Beyond. A transição entre as duas canções é exemplar e Sequenza... começa com o pulsar do baixo de Dimle num ritmo aparentemente descuidado, equilibrando-se progressivamente até se diluir no tema assombroso do filme. Segue-se uma composição bem conhecida dos cinéfilos que apreciam Rosemary's Baby ou A Semente do Diabo de Polanski, Lullaby é isso mesmo, uma canção de adormecer sinistra, cantada por Yessica Lindkvist num registo de voz etéreo e suavizante. Com esta atmosfera calma, ainda que evocantemente negra e tensa, surge Quiet Drops, sendo esta uma das minhas favoritas do álbum, original dos Goblin composta para Buio Omega ou Beyond The Darkness realizado por Joe D'Amato (Aristide Massaccesi). É uma canção fantástica que reúne dois excelentes guitarristas (visto que Berg estava, sobretudo, encarregue do Mellotron) cabendo a ribalta a Fiske que emula perfeitamente as "gotas". O "intermezzo" neste holocausto sinfónico aparece pela face do Opening Theme, do famigerado Holocausto Canibal ou no original Cannibal Holocaust de Ruggero Deodato, que é uma faixa mais leve em relação ao resto, mas com o efeito nostálgico decorrente do facto de ter sido misturada através de um radio velho. O disco prossegue com The Photosession emprestada pelo filme erótico, The Golden Girls, protagonizado pela playmate do ano (bem longínquo) Shauna Grant. Esta é uma faixa relaxante muito por culpa do som das ondas de Janne Hansson, no entanto decadente e melancólica. A magnum opus do quarteto esta reservada para Symphonic Holocaust e assiste-se ao longo dos cerca de 18 minutos, em que somos acompanhados pelos músicos, a um reaproveitar e reinventar dos "truques" evocados durante a interpretação das faixas clássicas, assim como a uma composição original fortíssima sob a forma de épico do "lado negro" de cada um dos artistas.

Com quase tudo dito, é pertinente reafirmar que este disco é uniforme e bastante estilizado, tal como o é único e genuíno. Não pretende agradar a todos e certamente que não é para todas as ocasiões, divulgando o lado mais soturno que escondemos, até nós próprios, sob pena de se tornar depressivo. É artisticamente gótico como o é romântico, mas acima de tudo, é uma homenagem ao passado que deixa um exemplo para o que futuramente se pode conseguir sem trair as raízes do género.


2 comentários:

Pedro disse...

Se fizesses reviews a albuns dos Tokio Hotel aposto que tinhas muitos mais comentários.

Luís disse...

lol também acho que sim.