segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Faith No More - Angel Dust

Esta é uma das bandas com que tive a sorte de crescer e como muitas outras da mesma altura nunca dei o devido valor, pelo menos, aquele que hoje lhes reconheço. Custa a assimilar toda a cacofonia de estilos musicais tão antagónicos como o metal, o rap, o funk e o pop, mas, assim que isso tudo entra no ouvido já daí não sai. Foi com a chegada de Mike Patton já no final dos 80´s que a banda adquiriu a assinatura que haveria de carregar até ao fim, no ano de 1998 em Lisboa. Uma capacidade vocal super elástica, teatral e, até, sobrenatural contrasta com a personalidade que assentou que nem uma luva no seio da banda como afirmou Billy Gould: “Nós somos pessoas socialmente atrasadas daí que tenhamos que fazer criancices para manter a sanidade mental”. Essas “criancices” consistiam em partidas levadas ao extremo da nojice e da loucura, cujas vítimas podiam ser membros do grupo (ou mesmo de outras bandas), da audiência ou qualquer um que se lhe passasse ao caminho. A irreverência e a técnica encontram-se com a originalidade e o brilhantismo, sendo o grande ponto de contacto este Angel Dust.

Em Angel Dust há poucas músicas que se possam individualizar das outras, em termos de diferenças estruturais, existem antes diferenças de orientação e de estilo. Em Caffeine e Malpractice temos uma influência mais metálica, enquanto, que em Midlife Crisis parece haver uma batida mais funk, já Crack Hitler e Jizzlobber mostram tendências mais experimentais. Destacam-se, RV, com a canção a fazer uma espécie de intervalo no álbum, com uns tons de blues e as duas covers em que o teclado de Midnight Cowboy faz uma entrada surreal para a popularíssima Easy. Predomina ao longo do registo momentos de génio, veja-se: as basslines de Everything’s Ruined e Kindergarten; a entrada de Be Agressive e a já referida Midnight Cowboy; os efeitos sónicos em Malpractice e o solo de guitarra em Be Agressive; A ginástica vocal em A Small Victory e a projecção atingida em Easy.

É um álbum de contrastes mas ao mesmo tempo muito fiel à mistura de géneros que invoca desde o primeiro momento. Esta aparente disparidade está presente até nas ilustrações da capa onde a famosa imagem do cisne esconde a foto da carne dos animais no talho. Não escondo também que se não fosse o meu irmão a comprar o CD, passados tantos anos do seu lançamento, estaria agora a ouvir a até à exaustão o mp3 de Midlife Crisis (Agora tenho o disco em repeat no leitor de CD).