Uma das razões pelas quais demoro tanto tempo para actualizar o blog está, curiosamente, interligada com um dos motivos para o manter. Quando se gosta tanto de música como eu é difícil arranjar tempo e palavras para descrever e analisar (de um modo descomprometido, entenda-se) algo que não tem que ser apreendido pela vista, nem processado no falso silêncio incandescente de um pc ligado à net. E por vezes não é evidente nestas linhas a entrega e o estado de espírito aquando da audição dos referidos discos, pelo que hoje num desses momentos de saudável loucura que é ouvir os Zeppelin ao vivo, tenha dado conta da transformação operada em mim. Compreendo que pagar uma quantia na ordem dos vinte e cinco a quinhentos Euros por artigo possa dissuadir o mais aberto dos espíritos, mas, chego à conclusão que não é só a peça de colecção (a raridade) nem o pacote de artwork que me fizeram (e provavelmente vão continuar a fazer) condenar a minha conta bancária à anorexia recorrente; somos transportados para um espectáculo único na história do rock.
Desfazendo um pouco nas palavras de Cameron Crowe (nas notas à The Soundtrack From The Film The Song Remains The Same): o som não transporta para o palco, nem a vista é das primeiras filas. Nem pensar… o som por vezes não é o melhor e olhamos para um horizonte de mais de trinta anos de muitas das míticas performances em palco dos quatro fantásticos que eram Bonham, Page, Plant e John Paul Jones. É algo igualmente saboroso: as fotos perdidas no tempo encontram agora um lar na posteridade dos milhares de edições piratas para nos fazer lembrar a arte de Jimmy ao deixar cair o braço na sua Les Paul, no sorriso de Robert, na classe de Jonesy e na imponência de Bonzo; a importância da qualidade sonora passa para segundo plano desde que consigamos distinguir aqueles momentos de génio em palco que só a maior banda de rock de todos os tempos é capaz de ascender, daí que quer venha da mesa, quer venha de um monitor ou ainda de um gravador dissimulado no casaco de um fã, o importante é o facto de ter sobrevivido a uma miríade de tormentas para chegar até nós. Os tempos em as canções eram reinventadas para melhor surpreender a audiência acabaram, pelo que hoje em dia nada resta a quem queira sonhar um pouco mais na pesada e inebriante noite dos Zeppelin senão estas pequenas sombras do que outrora foi real. Assim, cabe à nossa mente preencher as lacunas e reduzir o ruído de fundo para desfrutar mais uma vez das covers fenomenais de As Long as I Have you e Train Kept a Rollin’ na tour de 69 e ainda de Stand By Me em 72 (mais concretamente em Osaka), dos medleys fantásticos de Communication Breakdown em 69 e 70, daquela versão de The Rover num soundcheck de Chicago em 73 e da única gravação ao vivo de Out On The Tiles em 70 (e em “Blueberry Hill”), das piadas de Plant entre canções, da ponte que Page faz entre Misty Mountain Hop e Since I’ve Been Loving You nas tours de 72 e 73, das entradas do orgão de Paul Jones na Thank You em 70, sem esquecer o ataque às basslines de How Many More Times e na trovoada mais técnica que alguma vez veio da bateria de Bonham nas Achilles Last Stand de 77.
Numa clara e exaustiva retrospectiva sobre a minha infância encontro poucos indícios que expliquem esta paixão febril de adulto, daí que não me surpreenda o parco número de leitores destes discos. No entanto, solicito e desafio quem partilhe de uma fixação semelhante a descrevê-la nos comentários (e já agora quem possuir alguma das já referidas pérolas prateadas a trocá-la comigo), porque é disso que trata aqui: de todos os clichés possíveis e imaginários que nos fomentam o gosto de ouvir boa música.
Desfazendo um pouco nas palavras de Cameron Crowe (nas notas à The Soundtrack From The Film The Song Remains The Same): o som não transporta para o palco, nem a vista é das primeiras filas. Nem pensar… o som por vezes não é o melhor e olhamos para um horizonte de mais de trinta anos de muitas das míticas performances em palco dos quatro fantásticos que eram Bonham, Page, Plant e John Paul Jones. É algo igualmente saboroso: as fotos perdidas no tempo encontram agora um lar na posteridade dos milhares de edições piratas para nos fazer lembrar a arte de Jimmy ao deixar cair o braço na sua Les Paul, no sorriso de Robert, na classe de Jonesy e na imponência de Bonzo; a importância da qualidade sonora passa para segundo plano desde que consigamos distinguir aqueles momentos de génio em palco que só a maior banda de rock de todos os tempos é capaz de ascender, daí que quer venha da mesa, quer venha de um monitor ou ainda de um gravador dissimulado no casaco de um fã, o importante é o facto de ter sobrevivido a uma miríade de tormentas para chegar até nós. Os tempos em as canções eram reinventadas para melhor surpreender a audiência acabaram, pelo que hoje em dia nada resta a quem queira sonhar um pouco mais na pesada e inebriante noite dos Zeppelin senão estas pequenas sombras do que outrora foi real. Assim, cabe à nossa mente preencher as lacunas e reduzir o ruído de fundo para desfrutar mais uma vez das covers fenomenais de As Long as I Have you e Train Kept a Rollin’ na tour de 69 e ainda de Stand By Me em 72 (mais concretamente em Osaka), dos medleys fantásticos de Communication Breakdown em 69 e 70, daquela versão de The Rover num soundcheck de Chicago em 73 e da única gravação ao vivo de Out On The Tiles em 70 (e em “Blueberry Hill”), das piadas de Plant entre canções, da ponte que Page faz entre Misty Mountain Hop e Since I’ve Been Loving You nas tours de 72 e 73, das entradas do orgão de Paul Jones na Thank You em 70, sem esquecer o ataque às basslines de How Many More Times e na trovoada mais técnica que alguma vez veio da bateria de Bonham nas Achilles Last Stand de 77.
Numa clara e exaustiva retrospectiva sobre a minha infância encontro poucos indícios que expliquem esta paixão febril de adulto, daí que não me surpreenda o parco número de leitores destes discos. No entanto, solicito e desafio quem partilhe de uma fixação semelhante a descrevê-la nos comentários (e já agora quem possuir alguma das já referidas pérolas prateadas a trocá-la comigo), porque é disso que trata aqui: de todos os clichés possíveis e imaginários que nos fomentam o gosto de ouvir boa música.